terça-feira, 5 de julho de 2011

UM BOEING EM PISTA DE TECO-TECO

Vindo da cidade de São Paulo, com um cartel considerável sob o ponto de vista acadêmico e vastíssimo sob a visão humanística, José de Ávila Aguiar Coimbra aterrissou em Muzambinho sábado passado. Um Boeing em pista de teco-teco. Se não tivesse ouvido José de Ávila Aguiar Coimbra, estaria rasgando papeis e amontoando-os mais à minha pequena estação de trabalho, como faço aos finais de semana. Perderia um momento extraordinário para adquirir e alicerçar conhecimento. Ávila por certo não é seguidor da “ecologia em profundidade” (Deep Ecology) como quer certo segmento ambientalista norte americano. Não. Não é. Está acima disso. Trata a questão ambiental com interesse conservacionista, brasilidade e crítica no essencial. Referiu-se à nossa democracia, historicamente incipiente, com leveza e sutileza. Mencionou o patriarca da nossa independência e veio à mente Francisco Rezek no prefácio da obra Direito, Meio Ambiente e Cidadania: uma abordagem interdisciplinar, de Flávia de Paiva M. de Oliveira e Flávio Romero Guimarães. Ao se referir à Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica-CDB lembrou-me Nikolai Vavlov, Os Centros de Vavlov. Tratou a questão econômica brasileira sem ser caótico. Foi leve e singular. Coisa típica dos mestres para reavivar na memória, brasileiro como Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil.

Passeou de mãos dadas com Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, efetivamente citado além de um contemporâneo seu a quem recomendou. Quando ousei lembrar A Visão do Paraíso, também do Sérgio Buarque de Holanda, Ávila permeou com maestria, sem referenciar e citar nomes, idéias de Caio Prado Junior, História Econômica do Brasil, autor e obra indispensável ao entendimento das estruturas da sociedade brasileira, especialmente as mazelas do passado! Necessária para entender a abordagem ambiental do momento. É dele a visão nítida de que o Brasil é, e sempre foi “uma empresa agroexportadora” a começar com o pau-brasil.

O maneirismo e a sutileza intelectual de Ávila me fizeram respeitar e acreditar na sua solidariedade para com a platéia. Quando um deles referiu-se aos americanos como cânceres do planeta, obtemperou afirmando que o homem é quem o é e pluralizou a questão. Esta parte é típica do inesquecível Eduardo Prado, autor de A Ilusão Americana. Simplesmente deslumbrante para quem estuda meio ambiente e aplica o Direito concernente a ele. O autor comprova por documentos da diplomacia internacional que o Estado Norte Americano nunca foi Nação parceira do Brasil. Apenas tolera. Cita passagens da diplomacia, da qual fez parte e, carrega nas palavras sem poupar críticas à relação bilateral com o Brasil e às multi-relações norte-americanas com o continente latino.

Irretocável a fala, o brinde de Ávila. Propiciou momentos incomparáveis a outros em que ouvi gente boa e igualmente importante no segmento ambiental. Ávila é diferente!

Reeditemos sua intelectualidade entre nós, trazendo-o mais vezes para mais pessoas verem e ouvi-lo. Se assim fizermos, revitalizaremos nosso intelecto. Nosso gosto por uma nova primavera onde Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Eduardo Prado — apesar da contemporaneidade literária, porquanto vanguardistas que foram — deixarão de ser apenas parte de um ideário ancestral. Eduardo Prado não será somente aquela alameda com árvores frondosas do Centro de Biociências da Cidade Universitária da USP, em São Paulo, ao lado da marginal do Rio Pinheiros, fundos com o Instituto Butantã e uma enorme favela separando a laboriosa comunidade científica do excêntrico bairro do Morumbi. Ávila perlustrou nosso ambientalismo com grandes brasileiros e deu a cada um o seu valor. Ajudem Ávila. Tragam-no mais vezes!



Publicado no Jornal A Folha Reginal, Ano 21, Ed. 1046, pag. 17

Nenhum comentário:

Postar um comentário